Não soube por muito tempo o que era choro,
não soube por muito tempo o que era medo,
E passava bem.
Acreditava na liberdade,
naquela sensação de não-dever,
poder cortar os cabelos curtíssimos do nada,
ou um intercâmbio de dois anos na Europa,
não depilar as pernas,
esquecer de aniversários,
dormir na diagonal de uma cama de casal.
Bradava aos quatro ventos ser livre.
Um belo dia, um domingo de manhã,
havia um pé junto ao seu na cama,
brinquedos de criança no quarto ao lado,
uma chave nova em seu chaveiro,
e uma praça do lado de fora da janela.
Depois desse dia, passou a chorar ouvindo música
enquanto andava de ônibus, assim mesmo, em público.
Passou a ter medo de atravessar a rua,
de pegar uma gripe,
de dormir à noite sem um sinal de vida.
Partir-se na metade
e dar-se para outro,
quase como tributo,
o mais delicioso e sublime dos sacrifícios,
faz de nós criaturas mais frágeis.
Pergunte hoje à ela,
quando encontrá-la tomando um sorvete
entre os pilotis da 111
se sente falta de ter os olhos secos
se há alguma saudade do tempo em que não devia nada a ninguém.
Dirá apenas que não pensa mais nisso,
e prefere acordar todos os dias tremendo de medo
como hoje acorda
à passar, sem temer nada, o resto de seus dias.
Descompromisso é apenas outro nome
pra medo da vida.
Não brada mais aos quatro ventos,
não há necessidade de dizer a todos o que sente.
Soa coisa de quem precisa de afirmação.
Apenas toma seu sorvete verde
e sorri,
Sabendo que já se aprova e é feliz,
recebe aquele outro sorriso de volta
e já não precisa de mais nada.
É livre duas vezes,
é livre não só por ela,
é livre por não ser só.
quando encontrá-la tomando um sorvete
entre os pilotis da 111
se sente falta de ter os olhos secos
se há alguma saudade do tempo em que não devia nada a ninguém.
Dirá apenas que não pensa mais nisso,
e prefere acordar todos os dias tremendo de medo
como hoje acorda
à passar, sem temer nada, o resto de seus dias.
Descompromisso é apenas outro nome
pra medo da vida.
Não brada mais aos quatro ventos,
não há necessidade de dizer a todos o que sente.
Soa coisa de quem precisa de afirmação.
Apenas toma seu sorvete verde
e sorri,
Sabendo que já se aprova e é feliz,
recebe aquele outro sorriso de volta
e já não precisa de mais nada.
É livre duas vezes,
é livre não só por ela,
é livre por não ser só.