terça-feira, 8 de janeiro de 2013

I miss you, babe

I miss you, babe,
parece que sem teu toque
minha pele não sente o vento,
parece que sem teu beijo
minha língua não reconhece o doce,
parece que sem seu olhar,
meus olhos são ainda mais míopes.

I miss you, babe,
e o tempo anda a passos de bebê,
andando dois, caindo três pra trás,
rindo da minha saudade latente
querendo brincar de se arrastar pelo chão
arranhando os joelhos delicados
enquanto não me aguento de ansiedade
esperando que chegue aos meus braços
são e salvo.

Você chega,
de repente, estou sensível a tudo,
o bebê cresce e passa a correr,
aí vai embora.
E nem deu tempo de terminar a saudade anterior.

I miss you, babe,
twice now.

sábado, 29 de dezembro de 2012

Bukowski

Eu me odeio quando te leio,
eu me odeio quando te vejo,
eu me odeio quando concordo com você,
eu me odeio quando discordo de você,

Esse maldito gosto de cerveja choca não me deixa
quando, por algum motivo,
você me aparece.

Eu me odeio quando penso em suas mulheres,
eu me odeio quando penso em seus homens,
eu me odeio quando penso em seus bêbados,
eu me odeio quando penso em seus olhos,


Esse maldito gosto de cerveja choca não me deixa
quando, por algum motivo,
você me aparece.

Eu me odeio quando leio "curra",
eu me odeio quando leio "puta",
eu me odeio quando leio "whisky",
eu me odeio quando leio "rua",

E esse maldito gosto de cerveja choca não me deixa
quando, por algum motivo,
você me aparece.

Por que eu odeio o quanto você é certo
e o quanto você é errado.
E tanto ódio junto é o sentimento mais foda que palavras
já me fizeram sentir
porque tanto ódio junto
vira inveja,
vira orgulho,
vira cópia,
vira amor.

Lembra meu amor.

Você escreve bem demais.
E é por isso que odeio tudo depois que te leio.

Especialmente porque se tem algo nesse mundo que eu odeio,
é gosto de cerveja choca.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Noite de natal

A melhor mentira já contada? Que somos indivíduos inteiros.
Não, nós não somos.

Ser humano algum se basta.
Ser humano algum é tudo aquilo que poderia ser.
Ser humano algum é completo.
Ser humano algum é indefectível.

Um dia qualquer,
você vai me mostrar uma música que eu não conhecia
e pedir que eu preste atenção em algum riff de guitarra
porque sabe que passaria batido sem sua observação.

Um dia qualquer,
eu vou te dar um livro novo ou te recitar um poema,
te traduzir alguma coisa do inglês que não tenha entendido,
fazer alguma receita caseira pra sua dor de garganta que não passa.

Um dia qualquer eu vou ficar doente na noite de natal,
entrar em pânico no meio da madrugada achando o mundo injusto e errado,
e sem sua calma pra conversar comigo
e por 20 minutos me explicar como é que essa vida segue
continuarei chorando em desespero
como se o dia seguinte fosse noite de natal de novo.

Não, nós não somos inteiros.
Cada indivíduo é qualidade e defeito,
cada um de nós tem seu ponto de equilíbrio e seu abismo de loucura,
ninguém tem a obrigação de ser perfeito pra si.

Se cabe a cada um procurar alguém que te complete?
Apenas se quiser.
O que eu sei é que sozinha, até que as coisas seguem seu rumo,
mas na primeira lata de leite condensado que eu quiser abrir
e não conseguir usar o abridor com minha mão esquerda,
você irá abri-la pra mim porque eu não consigo,
e tentarei te fazer o melhor brigadeiro do mundo
só porque você existe.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Livre.

Não soube por muito tempo o que era choro,
não soube por muito tempo o que era medo,
E passava bem.
Acreditava na liberdade, 
naquela sensação de não-dever,
poder cortar os cabelos curtíssimos do nada,
ou um intercâmbio de dois anos na Europa,
não depilar as pernas,
esquecer de aniversários,
dormir na diagonal de uma cama de casal.

Bradava aos quatro ventos ser livre.

Um belo dia, um domingo de manhã,
havia um pé junto ao seu na cama,
brinquedos de criança no quarto ao lado,
uma chave nova em seu chaveiro,
e uma praça do lado de fora da janela.
Depois desse dia, passou a chorar ouvindo música 
enquanto andava de ônibus, assim mesmo, em público.
Passou a ter medo de atravessar a rua,
de pegar uma gripe,
de dormir à noite sem um sinal de vida.

Partir-se na metade
e dar-se para outro,
quase como tributo,
o mais delicioso e sublime dos sacrifícios,
faz de nós criaturas mais frágeis.
Pergunte hoje à ela,
quando encontrá-la tomando um sorvete
entre os pilotis da 111
se sente falta de ter os olhos secos
se há alguma saudade do tempo em que não devia nada a ninguém.

Dirá apenas que não pensa mais nisso,
e prefere acordar todos os dias tremendo de medo
como hoje acorda
à passar, sem temer nada, o resto de seus dias.
Descompromisso é apenas outro nome
pra medo da vida.

Não brada mais aos quatro ventos,
não há necessidade de dizer a todos o que sente.
Soa coisa de quem precisa de afirmação.
Apenas toma seu sorvete verde
e sorri,
Sabendo que já se aprova e é feliz,
recebe aquele outro sorriso de volta
e já não precisa de mais nada.

É livre duas vezes,
é livre não só por ela,
é livre por não ser só.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

2.

Quanto tropeço,
lágrima e soluço desmedido
sem motivo
repentino
me rasga, me corta, me dilacera
durante a madrugada,
assim, do nada.

Quanto suspiro,
gozo e grito lancinante
em meio ao fogo
de surpresa
me morde, me aperta, me engole
em plena luz do dia,
assim, do nada.

Quanto sorriso,
gargalhada e falta de ar sem tamanho
sob o céu sem nuvens
a qualquer hora
me faz em piada, me prega peça, me faz cócegas,
enquanto espera o sinal abrir
assim, do nada.

Quanta lembrança,
a cada passo, uma vida toda pela frente,
no mundo inteiro,
o tempo todo,
comigo anda, comigo cai, comigo levanta,
mas não é assim, do nada.

É só assim.
Por tudo isso.
E pelo que mais tiver por aí.

domingo, 3 de junho de 2012

Os imortais.

Não escrevi ainda a frase definitiva,
que mereça estar gravada naquela pele branca até o fim dos dias,
mas um dia, ainda ei de escrevê-la.
Dentre os vários motivos pelos quais
me desdobro em palavras incontáveis,
o transformar vida em letra
prender um segundo ou um sorriso
em meia frase mal escrita
é o mais forte de todos eles.
Não ainda, não escrevi a frase definitiva,
nada do que tenha dito até hoje
captura o que de mais necessário há nisso tudo.
Espere mais um pouco,
ela um dia me sairá
antes pela boca do que pelos escritos,
antes pelo suor e pelo gozo do que pelo gemido,
espere mais um pouco,
ainda não escrevi a frase definitiva,
mas um dia ela me sairá
e depois disso, já não haverá volta,
nada do dito ou do escrito pode ser retirado,
e, mais uma vez, de outra forma,
terá comigo sido jogado
no abismo da imortalidade.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Ao acordar.

Queria carregar comigo
batom vermelho pra deixar em todas as suas paredes
marcas da minha boca e palavras em vários idiomas
antes de sair assim, sem deixar pista.

Se pudesse, calaria o motor do carro,
sairia sem ruído antes que o sol se ponha,
não há flor em lugar nenhum
que possa roubar e pôr num vaso
pra que veja quando acordar
ao lado de uma garrafa de café quente
que te espere.

Ao invés disso,
estava eu, assim como estou,
sem batons nos bolsos,
cara amarrotada,
um carro barulhento,
sem saber fazer um bom café,
ainda assim, de coração apertado,
saltando a cada vez que no caminho
me deparava com um retorno.

Mas calma, está tudo bem,
Eu vou voltar,
prometo que vou voltar
pra limpar as lágrimas de tinta que deixei pingando no seu chão
e sem lamentação alguma
poder dar-me o tempo que quiser
pra dormir tranquila
e te oferecer um copo d'água ao acordar.