Mais uma vez era eu ali. Aquele mesmo cenário, aquela mesma terra vermelha, aquela mesma gente maltratada que naquele lugar sempre esteve e dá a impressão de ser eterna. Poderia dizer que vi aquelas mesmas caras há anos atrás, mesmo sabendo que são rostos mais novos do que eu. Rostos que já deram origem a outros enquanto eu, tão veemente quanto posso, me nego a tal ato. Algumas, de fato eram conhecidas. Não me reconheceram. Nem eu me reconheceria.
Mas apesar do mais do mesmo que paira sobre minha pequena Dogville particular, ali era uma situação avessa. Uma passada rápida e repentina, diferente de todas as outras cuidadosamente planejadas com semanas de antecedência, contando os poucos e porcos feriados. Um belo carro ao invés dos velhos ônibus que se desfacelam a cada passada de marcha. Uma conversa incessante, sobre um passado nem tão distante assim, mas não era a conversa de sempre lembrando dos mesmos episódios de uma adolescência que ainda não terminou, era uma conversa nova. Era um alguém novo.
Um bom tempo sentados em belas cadeiras, bem alimentados, esperando pela única coisa que ali fomos fazer, mas meus olhos não paravam de olhar o em volta e tentar nele, resgatar o em volta de outrora. Ali se fez claro como o céu da cidade sem fábricas, estava ali de volta e era outra. A cidade, a pessoa. Os motivos até capto, mas como isso se deu, eu perdi. Mas estava ali de passagem sem procurar por mim em esquina alguma, e apenas isso. Não era um lugar qualquer, mas era um lugar como qualquer outro.
Ao fim, o convite óbvio de viver algo que me é tão raro, e surpreendentemente, a recusa. Não perdeu a história, apenas perdeu a fantasia. A última das caixas fora aberta e tudo foi posto em seu lugar. Joguei fora todo o resto, junto com algumas latas vazias de tinta. A sensação é aquela de terminar uma mudança e ter a casa limpa. Já não pertenço mais a um espaço. Estou comigo. E acabou.