quarta-feira, 28 de março de 2012
Quando vi a minha volta toda aquela água,
quis eu que nela me afogasse,
e que de lá não houvesse resgate.
Quando vi a minha volta todo aquele asfalto,
quis eu que ele me engolisse,
e que de lá não houvesse resgate.
Quando vi a minha volta toda aquela gente
quis eu que entre eles me perdesse,
e que de lá não houvesse resgate.
E quando vejo a minha volta,
que toda a água, asfalto e multidão
se fazem vivos aos meus olhos,
sintetizando-se numa respiração calma,
que de repente pára e depois continua
como se nada mais importasse,
vejo que não haveria resgate possível
nem mesmo se quisesse.
E a parte boa
é que nunca quis.
sexta-feira, 23 de março de 2012
O Reencontro
– Vá para lá –, diz ele
Nu, segue na direção indicada.
Passos calmos, como nas velhas caminhadas,
sabe que não há motivo para pressa,
sabe que agora, não há motivo pra nada,
mas se vê inquieto,
a possibilidade do reencontro
o invade como peste.
O dono do lugar o chama com sorriso amigo,
diz que há muito esperava conhecê-lo pessoalmente
que admirava seus olhos perfurantes,
e agradece todo o serviço prestado.
Olhando em volta, percebe vários rostos e corpos conhecidos,
algumas mulheres com quem passara boas e más noites,
amigos antigos, de quando estava aprendendo
a ser um batedor de carteira barato,
e cabeças abertas, cujo corte ele reconhece,
específico, quase uma obra de arte, inventado por ele,
boa parte daquelas pessoas, ele mesmo havia mandado para lá.
Com um simples aceno de cabeça se despede,
nunca ouviu a mesma pessoa por mais de quinze minutos.
Não seria o Demônio a conseguir a proeza.
Continua caminhando, ainda mais lentamente ainda,
prestando atenção em cada rosto,
procurando por ela em cada um deles,
gelado por dentro, apesar do fogo do lado de fora.
Ao longe, isolada de tudo e todos,
ali está, olhando para o nada.
Não precisou sequer chegar perto,
ela já pede que se sente.
Mais uma conversa com mais espaços que palavras,
diz que perdera a vida num jogo de poker.
Apostara tudo o que tinha,
a mão valia a pena,
mas boas mãos não são a prova de bala.
Fala do que acontecera,
a mãe dela morrera de velhice, sem dúvidas estava no céu,
a cidade havia progredido,
quase matara o Papa,
mas ali, o calculismo e a mira dela fizeram falta.
Dali em diante, não se ouve mais nada de nenhum dos dois,
o hiato permanece,
e permanecerá,
não há o que dizer quando se está na Eternidade,
e agora, sem mais a quem matar,
cercados dos mortos que eles mesmos fizeram,
cercados pelo fogo que ajudaram a construir,
e partilhando seus pecados,
ele suspira,
e diz que já estava cansado.
Deitam-se e dormem ali mesmo,
sob o olhar quase paternal do Diabo
que vê naqueles dois seus maiores pupilos,
as melhores das piores almas que já fez,
cuja foto está em sua escrivaninha,
ao lado do livro dos condenados.
Nu, segue na direção indicada.
Passos calmos, como nas velhas caminhadas,
sabe que não há motivo para pressa,
sabe que agora, não há motivo pra nada,
mas se vê inquieto,
a possibilidade do reencontro
o invade como peste.
O dono do lugar o chama com sorriso amigo,
diz que há muito esperava conhecê-lo pessoalmente
que admirava seus olhos perfurantes,
e agradece todo o serviço prestado.
Olhando em volta, percebe vários rostos e corpos conhecidos,
algumas mulheres com quem passara boas e más noites,
amigos antigos, de quando estava aprendendo
a ser um batedor de carteira barato,
e cabeças abertas, cujo corte ele reconhece,
específico, quase uma obra de arte, inventado por ele,
boa parte daquelas pessoas, ele mesmo havia mandado para lá.
Com um simples aceno de cabeça se despede,
nunca ouviu a mesma pessoa por mais de quinze minutos.
Não seria o Demônio a conseguir a proeza.
Continua caminhando, ainda mais lentamente ainda,
prestando atenção em cada rosto,
procurando por ela em cada um deles,
gelado por dentro, apesar do fogo do lado de fora.
Ao longe, isolada de tudo e todos,
ali está, olhando para o nada.
Não precisou sequer chegar perto,
ela já pede que se sente.
Mais uma conversa com mais espaços que palavras,
diz que perdera a vida num jogo de poker.
Apostara tudo o que tinha,
a mão valia a pena,
mas boas mãos não são a prova de bala.
Fala do que acontecera,
a mãe dela morrera de velhice, sem dúvidas estava no céu,
a cidade havia progredido,
quase matara o Papa,
mas ali, o calculismo e a mira dela fizeram falta.
Dali em diante, não se ouve mais nada de nenhum dos dois,
o hiato permanece,
e permanecerá,
não há o que dizer quando se está na Eternidade,
e agora, sem mais a quem matar,
cercados dos mortos que eles mesmos fizeram,
cercados pelo fogo que ajudaram a construir,
e partilhando seus pecados,
ele suspira,
e diz que já estava cansado.
Deitam-se e dormem ali mesmo,
sob o olhar quase paternal do Diabo
que vê naqueles dois seus maiores pupilos,
as melhores das piores almas que já fez,
cuja foto está em sua escrivaninha,
ao lado do livro dos condenados.
quinta-feira, 22 de março de 2012
"Adeus às Armas"
O sangue já escorre pela boca,
quase me sinto engasgar,
percebendo que já não há escapatória,
vou deixando que os suspiros se façam raros.
Não, não precisa buscar ajuda,
apenas fique aqui, comigo,
o tempo é curto,
em breve será apenas tu na caminhada.
O tiro pegou em cheio,
esquecemos de averiguar se o outro estava armado,
sempre foste mais safo do que eu,
e eternamente os ecos do seu grito irão pairar nesse vale.
Não deixe que essa lágrima caia,
não se perca em nome de nada,
não fale a ninguém aonde vai me enterrar,
só quero visitas tuas,
mesmo sabendo que ninguém mais lembraria da minha existência.
Cúmplice de outras épocas,
não enfraqueça,
faça jus à força que sempre vi em ti,
nada de odes à minha vida,
sabe bem que dela não se tira muita coisa,
e viveu comigo quase tudo aquilo que mereceria ser lembrado,
mas que com a visão turva, já esqueço.
faça jus à força que sempre vi em ti,
nada de odes à minha vida,
sabe bem que dela não se tira muita coisa,
e viveu comigo quase tudo aquilo que mereceria ser lembrado,
mas que com a visão turva, já esqueço.
Tudo aquilo que te disse,
todos nossos silêncios juntos,
tudo aquilo que sabemos sobre nós e sobre o mundo,
em parte morre agora comigo,
e a você, aquele que se vê na eternidade,
cabe ser o aedo da nossa história.
em parte morre agora comigo,
e a você, aquele que se vê na eternidade,
cabe ser o aedo da nossa história.
Leva contigo o meu escalpo,
e assim, garanto,
mesmo findada,
continuarei puxando o gatilho pra você.
continuarei puxando o gatilho pra você.
quarta-feira, 21 de março de 2012
Armas iguais.
A maior das virtudes pra um bom criminoso
é saber agir como se não fosse um.
Arma no bolso interno do sobretudo preto,
faca presa por uma tira de couro no antebraço,
e nenhuma gota de sangue no traje impecável.
Estava tranquila,
procura um bar pra sentar e descansar os pés.
Um pontapé repentino arromba a porta,
duas armas apontadas pra todos ali dentro,
um berro obrigando todos a saírem.
Em menos de um minuto, já não havia mais ninguém ali.
Ninguém. Exceto ela.
Não iria mover seus pés doloridos por qualquer coisa,
e apenas bebe um gole da sua bebida de sempre,
esperando a coragem do estranho de tirá-la dali.
Reconhece a arma dele. Igual a que trazia em seu bolso.
Sabe que aquela arma não se encontra em qualquer lugar.
Reconhece a coragem dela. Igual a que havia sido ensinado a ter.
Sabe que aquela coragem não se encontra em qualquer lugar.
Senta ao lado dela, pede também um drink, quase uma assinatura própria.
Em silêncio, vão bebendo sem parar de se olhar,
o barman, assustado, escondido atrás do balcão,
diz que aquele silêncio
falava mais do que qualquer conversa entre dois comuns.
Tremendo, diante da audiência daquela pequena cidade,
mostra a todos um talho de faca no balcão de madeira,
e diz que saíram juntos,
sempre em silêncio,
como se fossem conhecidos antigos,
o que é estranho,
uma vez que sempre foram vistos sozinhos.
– Provavelmente devem voltar, diz ele,
vão acabar com todos nós,
vão tirar até a última gota de vida dessa cidade,
sabe-se lá que diabos pessoas como eles podem fazer! –
– Mas uma coisa é fato, senhores...
Eu os vi sorrir. –
empunha uma espingarda pra mostrar o que tentará fazer contra eles,
a cidade aplaude seu defensor,
que com isso, venderá mais bebidas.
Enquanto isso, o prefeito da cidade vizinha é encontrado morto em seu gabinete,
o mesmo talho na madeira da mesa.
Viraram lenda por toda aquela região,
mesmo sem nunca mais terem sido vistos por ninguém,
e até hoje se especula,
qual dos dois atira,
e qual dos dois escalpela.
é saber agir como se não fosse um.
Arma no bolso interno do sobretudo preto,
faca presa por uma tira de couro no antebraço,
e nenhuma gota de sangue no traje impecável.
Estava tranquila,
procura um bar pra sentar e descansar os pés.
Um pontapé repentino arromba a porta,
duas armas apontadas pra todos ali dentro,
um berro obrigando todos a saírem.
Em menos de um minuto, já não havia mais ninguém ali.
Ninguém. Exceto ela.
Não iria mover seus pés doloridos por qualquer coisa,
e apenas bebe um gole da sua bebida de sempre,
esperando a coragem do estranho de tirá-la dali.
Reconhece a arma dele. Igual a que trazia em seu bolso.
Sabe que aquela arma não se encontra em qualquer lugar.
Reconhece a coragem dela. Igual a que havia sido ensinado a ter.
Sabe que aquela coragem não se encontra em qualquer lugar.
Senta ao lado dela, pede também um drink, quase uma assinatura própria.
Em silêncio, vão bebendo sem parar de se olhar,
o barman, assustado, escondido atrás do balcão,
diz que aquele silêncio
falava mais do que qualquer conversa entre dois comuns.
Tremendo, diante da audiência daquela pequena cidade,
mostra a todos um talho de faca no balcão de madeira,
e diz que saíram juntos,
sempre em silêncio,
como se fossem conhecidos antigos,
o que é estranho,
uma vez que sempre foram vistos sozinhos.
– Provavelmente devem voltar, diz ele,
vão acabar com todos nós,
vão tirar até a última gota de vida dessa cidade,
sabe-se lá que diabos pessoas como eles podem fazer! –
– Mas uma coisa é fato, senhores...
Eu os vi sorrir. –
empunha uma espingarda pra mostrar o que tentará fazer contra eles,
a cidade aplaude seu defensor,
que com isso, venderá mais bebidas.
Enquanto isso, o prefeito da cidade vizinha é encontrado morto em seu gabinete,
o mesmo talho na madeira da mesa.
Viraram lenda por toda aquela região,
mesmo sem nunca mais terem sido vistos por ninguém,
e até hoje se especula,
qual dos dois atira,
e qual dos dois escalpela.
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