Poderia ser qualquer domingo, mas era esse.
Acordar cedo, lavar os cabelos,
escovar os dentes, mesmo estando sem vontade de abrir a boca pra falar algo.
Me enfiar no sofá alheio e fazer dali um caixão por algumas horas.
Senta ao meu lado, tentando parecer simpática,
faz questão de um beijo e de um abraço meu.
Tenta puxar conversa, não adianta, não estou pra isso,
vá puxar o saco de quem precisa puxar! Minha aprovação aqui de nada vale.
A cara num livro de Bukowski,
uma louca que berra "SEU BICHA!" nas páginas,
um casal novo e apaixonado no sofá ao lado,
e percebo que não estou em nenhuma das duas cenas,
e que as duas de certa forma me perturbam,
não tenho a menor intenção de jogar a vida de alguém na merda
e muito menos que alguém veja em mim a salvação pra alguma coisa,
sequer faço algo por mim.
Uma bela tarde de chuva torrencial,
parecia que o Atlântico desabava sobre nossas cabeças,
dois bons filmes, boas companhias,
vejo uma altruísta plena na tela,
vejo uma platéia inteira aos prantos,
e mais uma vez, percebo que sequer figuração na tela ou na poltrona faço,
ali, impassiva, olhos enxutos e sem corda no pescoço.
Poderia ser qualquer domingo, mas era esse,
o último do mês de janeiro,
aonde saí com o sol das dez fazendo suar,
voltei quase no dia seguinte, com vento nos cabelos,
passei pelo dilúvio sem Noé que me resgatasse em arca,
mas queria era ser garoa de São Paulo encharcando você.
segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
sábado, 28 de janeiro de 2012
Não, hoje não é dia de fazer alguma coisa... uma sensação estranha no estômago e uma cabeça querendo pesar me seguram em 72 m² de mundo restrito, que meu não é, mas ajo como se fosse. O simples ato de abrir meus olhos ao acordar já me cansou pelas próximas 24 horas. Quase doeu.
Entendam que isso não incorre num estado de melancolia, depressão ou qualquer coisa do tipo. Entendam que eu não tenho que procurar recuperação alguma. Enxergo a beleza do samba numa tarde de sábado, regado à cachaça barata e cerveja, uma mulata sorridente fazendo da música, carne em movimento, mas a vocação de passista não nasceu comigo, e nisso não há motivo pra desespero.
Vejo o mundo da minha janela e só desço quando quero. Aqui há bons livros, a penumbra natural do meu quarto, a vista do pôr-do-sol e o chão gelado aonde me deito em dias de calor... Deixem de achar que recolhimento é doença. O samba só é bem escrito quando tem alguma gota de solidão.
quinta-feira, 26 de janeiro de 2012
Olhos não sabem esconder verdadeiras intenções.
Estavam ali como vinham estando há um tempo,
distância suficiente pra que ainda haja concentração,
sem que o cheiro se perca no meio do caminho.
Apesar da euforia iminente, o que se percebe é uma calma
típica de quem entende que às vezes
a própria tensão anterior ao instante alimenta ao espírito
tanto quanto o instante em si.
O sinal de todos os dias:
Uma tremedeira na perna.
Não há mais nada que os impeça
e eu, olhando da janela da frente,
bem percebo que na verdade, nunca houve nada que pudesse impedi-los.
Roupas que somem do corpo de forma lenta e gradual,
como se estivessem por descobrir o inédito,
E ali ficam por horas,
unidos pelos braços, unidos pelas pernas,
unidos pelo suor e unidos por pura vontade.
Sem se preocupar com quem os veja,
por que, na verdade, até então ninguém os havia visto,
e sem desconfiar de mim,
se entregam àquela nudez delicada, descabelada,
e acima de tudo, cúmplice.
Tento ler os lábios deles, entender o que tanto conversam e riem,
e então percebo que não estão falando um idioma que eu entenda.
Ali vejo o encontro de dois daimons,
vejo-os chegar ao orgasmo aos berros,
vejo-os devorando um ao outro como se o sol não fosse nascer de novo,
penso que talvez possam estar certos.
Continuam conversando,
sabe-se lá que diabos falam,
mas sabe-se que não perdem tempo,
pois pra eles, o tempo não se mede.
Volto ao meu quarto e escrevo sobre o que vi,
Ciente de que talvez nem tenha visto nada.
Dois daimons eram meus vizinhos da frente,
e morrerei sem saber se apenas tomei remédios demais,
ou se estou a meio caminho do Olimpo.
distância suficiente pra que ainda haja concentração,
sem que o cheiro se perca no meio do caminho.
Apesar da euforia iminente, o que se percebe é uma calma
típica de quem entende que às vezes
a própria tensão anterior ao instante alimenta ao espírito
tanto quanto o instante em si.
O sinal de todos os dias:
Uma tremedeira na perna.
Não há mais nada que os impeça
e eu, olhando da janela da frente,
bem percebo que na verdade, nunca houve nada que pudesse impedi-los.
Roupas que somem do corpo de forma lenta e gradual,
como se estivessem por descobrir o inédito,
E ali ficam por horas,
unidos pelos braços, unidos pelas pernas,
unidos pelo suor e unidos por pura vontade.
Sem se preocupar com quem os veja,
por que, na verdade, até então ninguém os havia visto,
e sem desconfiar de mim,
se entregam àquela nudez delicada, descabelada,
e acima de tudo, cúmplice.
Tento ler os lábios deles, entender o que tanto conversam e riem,
e então percebo que não estão falando um idioma que eu entenda.
Ali vejo o encontro de dois daimons,
vejo-os chegar ao orgasmo aos berros,
vejo-os devorando um ao outro como se o sol não fosse nascer de novo,
penso que talvez possam estar certos.
Continuam conversando,
sabe-se lá que diabos falam,
mas sabe-se que não perdem tempo,
pois pra eles, o tempo não se mede.
Volto ao meu quarto e escrevo sobre o que vi,
Ciente de que talvez nem tenha visto nada.
Dois daimons eram meus vizinhos da frente,
e morrerei sem saber se apenas tomei remédios demais,
ou se estou a meio caminho do Olimpo.
quarta-feira, 25 de janeiro de 2012
Há certa beleza nas noites de chuva, que não se restringe às gotas realçando traços curvos e modernos de uma arquitetura que nos dá um pouco da já pequena identidade cultural de quem por aqui vive... Cada poça de água que se forma nesse asfalto irregular em dias de ebulição mental e marasmo prático, é um convite ao pensamento incessante, e observar cada uma delas iluminada pelo poste que quase parece entrar pela minha janela é o que se faz por hoje.
domingo, 22 de janeiro de 2012
Alforria
Depois de anos recebendo cartas quase idênticas,
falando da dureza da vida naquela terra
e de como lá tinha um pôr-do-sol bonito,
num belo dia, aparece uma diferente, caligrafia mais acertada,
dizendo que dali a um mês, estaria recebendo sua carta de alforria.
Imediatamente ela arruma suas poucas coisas numa trouxa
e sai rumo àquela velha fazenda,
com cada milímetro daquela senzala aonde se conheceram na mente,
e de onde sua fuga fora mais fácil,
escravinha nova, não fazia muita diferença.
A viagem era longa, turbulenta,
e chegara no dia marcado.
Esperando na sombra, com medo que o sol a fizesse suar
e acabasse com o cheiro do perfume barato que comprara apenas pra esse dia,
ela o vê atravessando os portões.
Uma calça puída feita com o tecido que embala as sacas de arroz,
velha, mas nesse dia, diferentemente dos outros, impecavelmente limpa.
Mancando da perna direita, depois de anos arrastando o grilhão de escravo,
sem suor, sem a voz ofegante de cansaço,
apenas um sorriso tímido de quem não esperava vê-la ali.
Páram de frente um pro outro, sabem que o contato será inevitável,
estão os dois do lado de fora,
em mãos, a carta de alforria,
ele apenas olha no fundo dos olhos dela
e diz que fará dinheiro
e um dia será poeta.
Os dois caminham na direção do sol rumo ao nada,
e o capataz na porta inveja aquela liberdade.
Fênix
Depois de mais uma noite de vento nos cabelos,
a mente que ferve
e quase sentindo meu crânio derreter,
lembro que da minha gaveta, nada mais resta.
Já não é mais tempo
de procurar num eu passado minhas perturbações de hoje,
vasculhar essa merda de madeira barata da Casas Bahia
atrás de algo que tangencie o instante presente
que nem medida possui.
Salvei aquilo que pude,
joguei fora sem dó o que a mim já não mais retrata,
como fiz com tudo e todos que pela minha vida já passaram.
Não, não restou muita coisa.
Uma ou duas páginas, talvez um par de meias e alguns poucos amigos.
Não, não lamento o que possa ter perdido,
Fiz exatamente o que achei que deveria ser feito.
Dessacralize o mundo,
encare e encarne a finitude,
cerque-se dos bons,
e nunca perca de vista o princípio básico:
A única coisa de que você nunca vai se livrar é de você mesmo,
então, faça sempre o possível,
pra não ser pra si uma companhia insuportável.
a mente que ferve
e quase sentindo meu crânio derreter,
lembro que da minha gaveta, nada mais resta.
Já não é mais tempo
de procurar num eu passado minhas perturbações de hoje,
vasculhar essa merda de madeira barata da Casas Bahia
atrás de algo que tangencie o instante presente
que nem medida possui.
Salvei aquilo que pude,
joguei fora sem dó o que a mim já não mais retrata,
como fiz com tudo e todos que pela minha vida já passaram.
Não, não restou muita coisa.
Uma ou duas páginas, talvez um par de meias e alguns poucos amigos.
Não, não lamento o que possa ter perdido,
Fiz exatamente o que achei que deveria ser feito.
Dessacralize o mundo,
encare e encarne a finitude,
cerque-se dos bons,
e nunca perca de vista o princípio básico:
A única coisa de que você nunca vai se livrar é de você mesmo,
então, faça sempre o possível,
pra não ser pra si uma companhia insuportável.
sábado, 14 de janeiro de 2012
Mais um achado de gaveta. 27/09/2011
Soam as trombetas,
baby, começou o fim do mundo
e eu sequer tive a chance de conhecer Paris!
Esqueci de amar a Deus sobre todas as coisas
e agora o peso do pecado funciona como grilhão e corrente.
Pessoas se curvam e pedem clemência
alegando ignorância e procurando ascender aos céus,
mas agora, investigando minha própria mente,
não encontro sequer um motivo pra me prostrar diante Dele,
que já me olha, sabendo que me entrego sem questionar,
admitindo uma curta existência que o nega desde sempre.
Brada em sua voz grave, chama meu nome
diz que a condenação é inevitável,
sinto o chão se abrir e as labaredas me envolverem,
dor, a pior das dores,
mas ainda assim, sem gritos.
O Inferno agora me espera, e não adianta negar o que fui ou o que fiz.
Tomada pelo fogo e já de pele carbonizada,
sinto um chicote em minhas costas,
o Diabo me sorri como velho amigo,
e diz sentir falta da Torre Eiffel.
baby, começou o fim do mundo
e eu sequer tive a chance de conhecer Paris!
Esqueci de amar a Deus sobre todas as coisas
e agora o peso do pecado funciona como grilhão e corrente.
Pessoas se curvam e pedem clemência
alegando ignorância e procurando ascender aos céus,
mas agora, investigando minha própria mente,
não encontro sequer um motivo pra me prostrar diante Dele,
que já me olha, sabendo que me entrego sem questionar,
admitindo uma curta existência que o nega desde sempre.
Brada em sua voz grave, chama meu nome
diz que a condenação é inevitável,
sinto o chão se abrir e as labaredas me envolverem,
dor, a pior das dores,
mas ainda assim, sem gritos.
O Inferno agora me espera, e não adianta negar o que fui ou o que fiz.
Tomada pelo fogo e já de pele carbonizada,
sinto um chicote em minhas costas,
o Diabo me sorri como velho amigo,
e diz sentir falta da Torre Eiffel.
domingo, 8 de janeiro de 2012
O que eu encontro quando mexo nas minhas gavetas. 19/07/2011
Como posso eu me perder
em becos já de longa data conhecidos
complicados, mas mapeados
pura desgraça que acaricia na noite gelada
e que se afasta quando o fogo se cria?
Profissionalmente humana,
aprendi a não ter medo e a me meter no que não devia
conheço assim os podres dessa raça, pois todos eles me pertencem,
e sendo bem sincera, deles quase me sinto filha.
Gente que tão fácil se impressiona
e vê, desenhado nas linhas de uma mão, todo um mundo a ser vivido,
mas que vivido nunca será por pura indisposição
pois estarei andando por outro lugar
sem lembrar sequer do seu nome
já que, sinceramente, isso não me interessa.
Como posso eu me perder
se sou parte da humanidade e ela é parte minha
se conheço cada centímetro de minha pele cansada
e está toda a humanidade fadada também à desgraça que faço sozinha?
Não, eu não me perco mais.
Tudo isso é muito óbvio,
e graça, na verdade, nunca teve.
E sendo só mais uma criminosa egoísta,
não esqueço minhas luvas e de mim não sobra rastro.
Ninguém me viu passar por aqui,
ninguém sabe que te matei a sangue frio.
E vou embora por entre as vielas,
sangue escorrendo pelas pernas
e toda a minha culpa se resumindo
a ter deixado a janela aberta e me esquecido da chuva.
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