Poderia ser qualquer domingo, mas era esse.
Acordar cedo, lavar os cabelos,
escovar os dentes, mesmo estando sem vontade de abrir a boca pra falar algo.
Me enfiar no sofá alheio e fazer dali um caixão por algumas horas.
Senta ao meu lado, tentando parecer simpática,
faz questão de um beijo e de um abraço meu.
Tenta puxar conversa, não adianta, não estou pra isso,
vá puxar o saco de quem precisa puxar! Minha aprovação aqui de nada vale.
A cara num livro de Bukowski,
uma louca que berra "SEU BICHA!" nas páginas,
um casal novo e apaixonado no sofá ao lado,
e percebo que não estou em nenhuma das duas cenas,
e que as duas de certa forma me perturbam,
não tenho a menor intenção de jogar a vida de alguém na merda
e muito menos que alguém veja em mim a salvação pra alguma coisa,
sequer faço algo por mim.
Uma bela tarde de chuva torrencial,
parecia que o Atlântico desabava sobre nossas cabeças,
dois bons filmes, boas companhias,
vejo uma altruísta plena na tela,
vejo uma platéia inteira aos prantos,
e mais uma vez, percebo que sequer figuração na tela ou na poltrona faço,
ali, impassiva, olhos enxutos e sem corda no pescoço.
Poderia ser qualquer domingo, mas era esse,
o último do mês de janeiro,
aonde saí com o sol das dez fazendo suar,
voltei quase no dia seguinte, com vento nos cabelos,
passei pelo dilúvio sem Noé que me resgatasse em arca,
mas queria era ser garoa de São Paulo encharcando você.
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