falando da dureza da vida naquela terra
e de como lá tinha um pôr-do-sol bonito,
num belo dia, aparece uma diferente, caligrafia mais acertada,
dizendo que dali a um mês, estaria recebendo sua carta de alforria.
Imediatamente ela arruma suas poucas coisas numa trouxa
e sai rumo àquela velha fazenda,
com cada milímetro daquela senzala aonde se conheceram na mente,
e de onde sua fuga fora mais fácil,
escravinha nova, não fazia muita diferença.
A viagem era longa, turbulenta,
e chegara no dia marcado.
Esperando na sombra, com medo que o sol a fizesse suar
e acabasse com o cheiro do perfume barato que comprara apenas pra esse dia,
ela o vê atravessando os portões.
Uma calça puída feita com o tecido que embala as sacas de arroz,
velha, mas nesse dia, diferentemente dos outros, impecavelmente limpa.
Mancando da perna direita, depois de anos arrastando o grilhão de escravo,
sem suor, sem a voz ofegante de cansaço,
apenas um sorriso tímido de quem não esperava vê-la ali.
Páram de frente um pro outro, sabem que o contato será inevitável,
estão os dois do lado de fora,
em mãos, a carta de alforria,
ele apenas olha no fundo dos olhos dela
e diz que fará dinheiro
e um dia será poeta.
Os dois caminham na direção do sol rumo ao nada,
e o capataz na porta inveja aquela liberdade.
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