Eu me odeio quando te leio,
eu me odeio quando te vejo,
eu me odeio quando concordo com você,
eu me odeio quando discordo de você,
Esse maldito gosto de cerveja choca não me deixa
quando, por algum motivo,
você me aparece.
Eu me odeio quando penso em suas mulheres,
eu me odeio quando penso em seus homens,
eu me odeio quando penso em seus bêbados,
eu me odeio quando penso em seus olhos,
Esse maldito gosto de cerveja choca não me deixa
quando, por algum motivo,
você me aparece.
Eu me odeio quando leio "curra",
eu me odeio quando leio "puta",
eu me odeio quando leio "whisky",
eu me odeio quando leio "rua",
E esse maldito gosto de cerveja choca não me deixa
quando, por algum motivo,
você me aparece.
Por que eu odeio o quanto você é certo
e o quanto você é errado.
E tanto ódio junto é o sentimento mais foda que palavras
já me fizeram sentir
porque tanto ódio junto
vira inveja,
vira orgulho,
vira cópia,
vira amor.
Lembra meu amor.
Você escreve bem demais.
E é por isso que odeio tudo depois que te leio.
Especialmente porque se tem algo nesse mundo que eu odeio,
é gosto de cerveja choca.
sábado, 29 de dezembro de 2012
terça-feira, 25 de dezembro de 2012
Noite de natal
A melhor mentira já contada? Que somos indivíduos inteiros.
Não, nós não somos.
Ser humano algum se basta.
Ser humano algum é tudo aquilo que poderia ser.
Ser humano algum é completo.
Ser humano algum é indefectível.
Um dia qualquer,
você vai me mostrar uma música que eu não conhecia
e pedir que eu preste atenção em algum riff de guitarra
porque sabe que passaria batido sem sua observação.
Um dia qualquer,
eu vou te dar um livro novo ou te recitar um poema,
te traduzir alguma coisa do inglês que não tenha entendido,
fazer alguma receita caseira pra sua dor de garganta que não passa.
Um dia qualquer eu vou ficar doente na noite de natal,
entrar em pânico no meio da madrugada achando o mundo injusto e errado,
e sem sua calma pra conversar comigo
e por 20 minutos me explicar como é que essa vida segue
continuarei chorando em desespero
como se o dia seguinte fosse noite de natal de novo.
Não, nós não somos inteiros.
Cada indivíduo é qualidade e defeito,
cada um de nós tem seu ponto de equilíbrio e seu abismo de loucura,
ninguém tem a obrigação de ser perfeito pra si.
Se cabe a cada um procurar alguém que te complete?
Apenas se quiser.
O que eu sei é que sozinha, até que as coisas seguem seu rumo,
mas na primeira lata de leite condensado que eu quiser abrir
e não conseguir usar o abridor com minha mão esquerda,
você irá abri-la pra mim porque eu não consigo,
e tentarei te fazer o melhor brigadeiro do mundo
só porque você existe.
Não, nós não somos.
Ser humano algum se basta.
Ser humano algum é tudo aquilo que poderia ser.
Ser humano algum é completo.
Ser humano algum é indefectível.
Um dia qualquer,
você vai me mostrar uma música que eu não conhecia
e pedir que eu preste atenção em algum riff de guitarra
porque sabe que passaria batido sem sua observação.
Um dia qualquer,
eu vou te dar um livro novo ou te recitar um poema,
te traduzir alguma coisa do inglês que não tenha entendido,
fazer alguma receita caseira pra sua dor de garganta que não passa.
Um dia qualquer eu vou ficar doente na noite de natal,
entrar em pânico no meio da madrugada achando o mundo injusto e errado,
e sem sua calma pra conversar comigo
e por 20 minutos me explicar como é que essa vida segue
continuarei chorando em desespero
como se o dia seguinte fosse noite de natal de novo.
Não, nós não somos inteiros.
Cada indivíduo é qualidade e defeito,
cada um de nós tem seu ponto de equilíbrio e seu abismo de loucura,
ninguém tem a obrigação de ser perfeito pra si.
Se cabe a cada um procurar alguém que te complete?
Apenas se quiser.
O que eu sei é que sozinha, até que as coisas seguem seu rumo,
mas na primeira lata de leite condensado que eu quiser abrir
e não conseguir usar o abridor com minha mão esquerda,
você irá abri-la pra mim porque eu não consigo,
e tentarei te fazer o melhor brigadeiro do mundo
só porque você existe.
quinta-feira, 30 de agosto de 2012
Livre.
Não soube por muito tempo o que era choro,
não soube por muito tempo o que era medo,
E passava bem.
Acreditava na liberdade,
naquela sensação de não-dever,
poder cortar os cabelos curtíssimos do nada,
ou um intercâmbio de dois anos na Europa,
não depilar as pernas,
esquecer de aniversários,
dormir na diagonal de uma cama de casal.
Bradava aos quatro ventos ser livre.
Um belo dia, um domingo de manhã,
havia um pé junto ao seu na cama,
brinquedos de criança no quarto ao lado,
uma chave nova em seu chaveiro,
e uma praça do lado de fora da janela.
Depois desse dia, passou a chorar ouvindo música
enquanto andava de ônibus, assim mesmo, em público.
Passou a ter medo de atravessar a rua,
de pegar uma gripe,
de dormir à noite sem um sinal de vida.
Partir-se na metade
e dar-se para outro,
quase como tributo,
o mais delicioso e sublime dos sacrifícios,
faz de nós criaturas mais frágeis.
Pergunte hoje à ela,
quando encontrá-la tomando um sorvete
entre os pilotis da 111
se sente falta de ter os olhos secos
se há alguma saudade do tempo em que não devia nada a ninguém.
Dirá apenas que não pensa mais nisso,
e prefere acordar todos os dias tremendo de medo
como hoje acorda
à passar, sem temer nada, o resto de seus dias.
Descompromisso é apenas outro nome
pra medo da vida.
Não brada mais aos quatro ventos,
não há necessidade de dizer a todos o que sente.
Soa coisa de quem precisa de afirmação.
Apenas toma seu sorvete verde
e sorri,
Sabendo que já se aprova e é feliz,
recebe aquele outro sorriso de volta
e já não precisa de mais nada.
É livre duas vezes,
é livre não só por ela,
é livre por não ser só.
quando encontrá-la tomando um sorvete
entre os pilotis da 111
se sente falta de ter os olhos secos
se há alguma saudade do tempo em que não devia nada a ninguém.
Dirá apenas que não pensa mais nisso,
e prefere acordar todos os dias tremendo de medo
como hoje acorda
à passar, sem temer nada, o resto de seus dias.
Descompromisso é apenas outro nome
pra medo da vida.
Não brada mais aos quatro ventos,
não há necessidade de dizer a todos o que sente.
Soa coisa de quem precisa de afirmação.
Apenas toma seu sorvete verde
e sorri,
Sabendo que já se aprova e é feliz,
recebe aquele outro sorriso de volta
e já não precisa de mais nada.
É livre duas vezes,
é livre não só por ela,
é livre por não ser só.
sexta-feira, 13 de julho de 2012
2.
Quanto tropeço,
lágrima e soluço desmedido
sem motivo
repentino
me rasga, me corta, me dilacera
durante a madrugada,
assim, do nada.
Quanto suspiro,
gozo e grito lancinante
em meio ao fogo
de surpresa
me morde, me aperta, me engole
em plena luz do dia,
assim, do nada.
Quanto sorriso,
gargalhada e falta de ar sem tamanho
sob o céu sem nuvens
a qualquer hora
me faz em piada, me prega peça, me faz cócegas,
enquanto espera o sinal abrir
assim, do nada.
Quanta lembrança,
a cada passo, uma vida toda pela frente,
no mundo inteiro,
o tempo todo,
comigo anda, comigo cai, comigo levanta,
mas não é assim, do nada.
É só assim.
Por tudo isso.
E pelo que mais tiver por aí.
lágrima e soluço desmedido
sem motivo
repentino
me rasga, me corta, me dilacera
durante a madrugada,
assim, do nada.
Quanto suspiro,
gozo e grito lancinante
em meio ao fogo
de surpresa
me morde, me aperta, me engole
em plena luz do dia,
assim, do nada.
Quanto sorriso,
gargalhada e falta de ar sem tamanho
sob o céu sem nuvens
a qualquer hora
me faz em piada, me prega peça, me faz cócegas,
enquanto espera o sinal abrir
assim, do nada.
Quanta lembrança,
a cada passo, uma vida toda pela frente,
no mundo inteiro,
o tempo todo,
comigo anda, comigo cai, comigo levanta,
mas não é assim, do nada.
É só assim.
Por tudo isso.
E pelo que mais tiver por aí.
domingo, 3 de junho de 2012
Os imortais.
Não escrevi ainda a frase definitiva,
que mereça estar gravada naquela pele branca até o fim dos dias,
mas um dia, ainda ei de escrevê-la.
Dentre os vários motivos pelos quais
me desdobro em palavras incontáveis,
o transformar vida em letra
prender um segundo ou um sorriso
em meia frase mal escrita
é o mais forte de todos eles.
Não ainda, não escrevi a frase definitiva,
nada do que tenha dito até hoje
captura o que de mais necessário há nisso tudo.
Espere mais um pouco,
ela um dia me sairá
antes pela boca do que pelos escritos,
antes pelo suor e pelo gozo do que pelo gemido,
espere mais um pouco,
ainda não escrevi a frase definitiva,
mas um dia ela me sairá
e depois disso, já não haverá volta,
nada do dito ou do escrito pode ser retirado,
e, mais uma vez, de outra forma,
terá comigo sido jogado
no abismo da imortalidade.
que mereça estar gravada naquela pele branca até o fim dos dias,
mas um dia, ainda ei de escrevê-la.
Dentre os vários motivos pelos quais
me desdobro em palavras incontáveis,
o transformar vida em letra
prender um segundo ou um sorriso
em meia frase mal escrita
é o mais forte de todos eles.
Não ainda, não escrevi a frase definitiva,
nada do que tenha dito até hoje
captura o que de mais necessário há nisso tudo.
Espere mais um pouco,
ela um dia me sairá
antes pela boca do que pelos escritos,
antes pelo suor e pelo gozo do que pelo gemido,
espere mais um pouco,
ainda não escrevi a frase definitiva,
mas um dia ela me sairá
e depois disso, já não haverá volta,
nada do dito ou do escrito pode ser retirado,
e, mais uma vez, de outra forma,
terá comigo sido jogado
no abismo da imortalidade.
sexta-feira, 25 de maio de 2012
Ao acordar.
Queria carregar comigo
batom vermelho pra deixar em todas as suas paredes
marcas da minha boca e palavras em vários idiomas
antes de sair assim, sem deixar pista.
Se pudesse, calaria o motor do carro,
sairia sem ruído antes que o sol se ponha,
não há flor em lugar nenhum
que possa roubar e pôr num vaso
pra que veja quando acordar
ao lado de uma garrafa de café quente
que te espere.
Ao invés disso,
estava eu, assim como estou,
sem batons nos bolsos,
cara amarrotada,
um carro barulhento,
sem saber fazer um bom café,
ainda assim, de coração apertado,
saltando a cada vez que no caminho
me deparava com um retorno.
Mas calma, está tudo bem,
Eu vou voltar,
prometo que vou voltar
pra limpar as lágrimas de tinta que deixei pingando no seu chão
e sem lamentação alguma
poder dar-me o tempo que quiser
pra dormir tranquila
e te oferecer um copo d'água ao acordar.
batom vermelho pra deixar em todas as suas paredes
marcas da minha boca e palavras em vários idiomas
antes de sair assim, sem deixar pista.
Se pudesse, calaria o motor do carro,
sairia sem ruído antes que o sol se ponha,
não há flor em lugar nenhum
que possa roubar e pôr num vaso
pra que veja quando acordar
ao lado de uma garrafa de café quente
que te espere.
Ao invés disso,
estava eu, assim como estou,
sem batons nos bolsos,
cara amarrotada,
um carro barulhento,
sem saber fazer um bom café,
ainda assim, de coração apertado,
saltando a cada vez que no caminho
me deparava com um retorno.
Mas calma, está tudo bem,
Eu vou voltar,
prometo que vou voltar
pra limpar as lágrimas de tinta que deixei pingando no seu chão
e sem lamentação alguma
poder dar-me o tempo que quiser
pra dormir tranquila
e te oferecer um copo d'água ao acordar.
domingo, 20 de maio de 2012
Desajuste.
Manhã de domingo,
e estou longe.
Não sei se poderia estar perto,
mesmo se de fato estivesse,
tudo parece tão pequeno
quanto pareceria sendo visto
há quilômetros de distância.
De uma semana
atropelada como são todas as semanas,
manhãs de domingo eram a hora
de me pôr no meu lugar.
Me espreguiçar
pra que a mente se encaixe melhor no corpo,
saber que ao meio-dia, a magia terá acabado,
mas a manhã de domingo
esteve ali.
E sim, é manhã de domingo,
mas a manhã de domingo está longe.
E olhando uma paisagem estranha,
numa cama que não é minha
e talvez alguém conhecido
circulando nessa casa
que parece virada para o lado errado,
(mas não tenho certeza se conheço ou não)
escrevo sobre o desajuste
e ouço motores de F1 na TV.
quarta-feira, 16 de maio de 2012
Eu sei, parece difícil,
às vezes as lágrimas vertem
sem que eu possa controlá-las.
Tudo isso vem em golpes,
repetidos, incessantes
e de repente,
vejo meu sangue na lona
ida a nocaute
contra mim mesma.
Não, não é culpa sua,
apenas nunca briguei assim comigo antes,
sempre convivi muito bem
com todos os meus defeitos.
Agora, a ânsia é por me superar,
fazer de mim alguém melhor,
ver que de parte de mim
brota um sorriso seu rosto
e me faz ter vontade de gargalhar.
Eu sei, parece difícil,
com o tempo me acostumo,
mas tenha só mais um pouquinho de paciência,
devo chorar por mais algumas vezes.
Só mais algumas.
às vezes as lágrimas vertem
sem que eu possa controlá-las.
Tudo isso vem em golpes,
repetidos, incessantes
e de repente,
vejo meu sangue na lona
ida a nocaute
contra mim mesma.
Não, não é culpa sua,
apenas nunca briguei assim comigo antes,
sempre convivi muito bem
com todos os meus defeitos.
Agora, a ânsia é por me superar,
fazer de mim alguém melhor,
ver que de parte de mim
brota um sorriso seu rosto
e me faz ter vontade de gargalhar.
Eu sei, parece difícil,
com o tempo me acostumo,
mas tenha só mais um pouquinho de paciência,
devo chorar por mais algumas vezes.
Só mais algumas.
terça-feira, 8 de maio de 2012
Nudez.
Amantes da nudez,
detestam roupas e livram-se delas assim que possível.
No limiar do ritual com a brincadeira,
todo aquele pano vai ao chão,
ou se pendura pelos móveis.
Peles diferentes,
o branco e o moreno na mais perfeita sintonia,
o arrepio simultâneo,
pêlos que se eriçam,
marcas, vergões, hematomas,
registro de dentes pelas pernas,
braços, pescoço, coxas,
rastro de água,
pele do rosto encharcada,
olhos abertos, rendidos,
bocas que não se calam,
corpos distantes,
palavras que se entrelaçam no ar,
máscaras que se penduram,
ao lado de cuecas
um sutiã na mesa ao lado.
Amantes da nudez
e amantes nus.
Quando não há mais o que ser tirado,
aí sim
peles grudadas,
suor, gozo,
arrepio,
tudo brilha,
tudo passa a fazer sentido.
detestam roupas e livram-se delas assim que possível.
No limiar do ritual com a brincadeira,
todo aquele pano vai ao chão,
ou se pendura pelos móveis.
Peles diferentes,
o branco e o moreno na mais perfeita sintonia,
o arrepio simultâneo,
pêlos que se eriçam,
marcas, vergões, hematomas,
registro de dentes pelas pernas,
braços, pescoço, coxas,
rastro de água,
pele do rosto encharcada,
olhos abertos, rendidos,
bocas que não se calam,
corpos distantes,
palavras que se entrelaçam no ar,
máscaras que se penduram,
ao lado de cuecas
um sutiã na mesa ao lado.
Amantes da nudez
e amantes nus.
Quando não há mais o que ser tirado,
aí sim
peles grudadas,
suor, gozo,
arrepio,
tudo brilha,
tudo passa a fazer sentido.
quarta-feira, 2 de maio de 2012
O homem.
Estranho homem
que passa com um sorriso enorme no rosto.
De longe avisto a intenção de dizer algo,
proferir palavras a ilustres desconhecidos
que com ele cruzem caminho
num fim de tarde
em meio às árvores.
A aproximação é inevitável,
há quilômetros já imagino o que diria,
talvez pedisse um abraço,
talvez falasse do céu,
ou apenas nos olhasse
e se mantivesse sorrindo.
O encontro se dá,
"bom feriado", ele diz,
ainda todos os dentes à mostra,
numa alegria tão genuína
que quase chegava a dar medo.
Sequer temos tempo de responder,
seguimos aos risos da situação,
uma última olhada pra trás,
parece que ele não olhou e seguiu
dando seus "bom feriado" a outros passantes.
Desacostumados à simpatia,
continuamos conversando sobre como seres humanos parecem ser felizes
sem de fato o serem.
Pensando agora, talvez aquele homem fosse feliz.
Ou talvez fosse tão triste e filho da puta como todo mundo,
e só tivesse sorrido
ao nos ver vindo em sua direção
no fim de tarde de segunda,
parecendo assim
tão estranhamente
e humanamente
felizes.
parecendo assim
tão estranhamente
e humanamente
felizes.
segunda-feira, 23 de abril de 2012
Continua.
Sinto o vento apenas numa metade minha,
e o sono se desvanecendo devagar
enquanto alguém fala ao meu lado,
recém-acordada,
ainda não entendo muito bem o que é dito,
mas tudo soa tão bonito,
continua falando, por favor,
estou gostando de ouvir sua voz.
O sol ainda está nascendo,
e eu finalmente estou desperta,
quantas cores estão lá fora
e que nos invadem aqui dentro,
bota uma música,
vamos deitar de frente pra janela,
continua me abraçando, por favor,
estou gostando de sentir você respirar.
Está na hora de sair e ver as cores de perto,
lava o rosto, ou melhor, toma um banho rápido,
ainda quero um beijo antes de abrir a porta,
e estou começando a ter fome,
então vamos, estamos prontos,
o domingo está lindo nos esperando.
Mas continua me olhando, por favor,
estou gostando de ver você feliz.
segunda-feira, 9 de abril de 2012
Eu e minhas circunstâncias.
Poderia ter demorado
mais cinco minutos.
Poderia morar a 30 quilômetros daqui,
Poderia ter nascido em outro lugar
Poderia estar pelos Jardins
Poderia estar embaixo da ponte,
Poderia várias coisas, mas não fiz,
não quis, não pude ou não fui.
E como conseqüência disso tudo,
E não me arrependo.
Poderia ter virado para
o outro lado,
ter ido pela rua de
baixo,
parado numa padaria pra
tomar um café.
Poderia morar a 30 quilômetros daqui,
ter o cabelo loiro e
1,80 de altura,
usar saia e ouvir U2.
Poderia ter nascido em outro lugar
falar uma língua
qualquer que não
o trôpego e complexo
português.
Poderia estar pelos Jardins
ansiando por um sorvete
de gorgonzola
enquanto desfilaria com
saltos que torneiam minhas pernas.
Poderia estar embaixo da ponte,
tendo mais quilos de
ossos
do que moedas no meu
bolso
me arrastando em troca
de água limpa.
Poderia várias coisas, mas não fiz,
não quis, não pude ou não fui.
Cheguei na hora em que
achei que deveria chegar,
fui para o lado que
quis, pela rua que quis,
deixei pra tomar café
em casa.
E como conseqüência disso tudo,
Estava ali, naquele
lugar, naquele momento, meio sonolenta,
deitada e enrolada num edredom branco.
E não me arrependo.
Não me arrependo.
sábado, 7 de abril de 2012
O mundo.
Um mundo inteiro está à minha frente,
e de tão pleno
me vejo tomada.
Em silêncio, olhos vidrados,
contemplo aquilo que se faz visível
sinto o ar se esvair completamente de meus pulmões,
Por um segundo,
estava ali morta,
inerte, acabada,
incapaz de reagir
tamanho o êxtase.
Lágrimas insistem em querer sair,
ao final, acabo permitindo que tudo aconteça,
o choro, o soluço,
o riso desenfreado, desesperado,
desmedido e destemido.
Eu tenho um mundo inteiro à minha frente,
e dele vou viver cada instante,
não abro mão de um segundo sequer.
Eu e o mundo,
o mundo e eu,
o tempo e o espaço,
o suspiro,
e o abraço.
terça-feira, 3 de abril de 2012
Leio Neruda numa tarde de sábado,
atropelando palavras, esquecendo pronúncias,
risos e lágrimas se alternando
na mais sublime das vivências possíveis.
Uma tia morta colabora
na montagem de um cenário perfeito,
e o resto, ficam por conta do acaso e da vontade,
e de toques estratégicos,
nem que seja apenas num fio de cabelo desalinhado,
tentando colocá-lo no lugar.
O sol se põe,
a noite chega,
a luz do poste ilumina um pé,
a luz do computador ilumina todo o resto,
quatro páginas de palavras pedindo pra serem relidas,
organizadas, editadas, publicadas,
recitadas ao pé do ouvido,
vividas mais uma vez,
como foram numa noite de torpor,
que terminou com All Stars vermelhos jogados na sala.
O tempo continua passando,
e aos olhos, vão caindo o melhor dos sonos,
o sono de quem já foi tão feliz
que precisa descansar pra continuar sendo.
O barulho ao longe, é hora de acordar,
hora de dar o último aperto no abraço,
hora de começar a contar os segundos de novo,
hora de voltar à vida prática,
e soltar um suspiro desconsolado
de quem não queria ir embora,
e um suspiro aliviado,
de quem lembra que isso não acabou.
atropelando palavras, esquecendo pronúncias,
risos e lágrimas se alternando
na mais sublime das vivências possíveis.
Uma tia morta colabora
na montagem de um cenário perfeito,
e o resto, ficam por conta do acaso e da vontade,
e de toques estratégicos,
nem que seja apenas num fio de cabelo desalinhado,
tentando colocá-lo no lugar.
O sol se põe,
a noite chega,
a luz do poste ilumina um pé,
a luz do computador ilumina todo o resto,
quatro páginas de palavras pedindo pra serem relidas,
organizadas, editadas, publicadas,
recitadas ao pé do ouvido,
vividas mais uma vez,
como foram numa noite de torpor,
que terminou com All Stars vermelhos jogados na sala.
O tempo continua passando,
e aos olhos, vão caindo o melhor dos sonos,
o sono de quem já foi tão feliz
que precisa descansar pra continuar sendo.
O barulho ao longe, é hora de acordar,
hora de dar o último aperto no abraço,
hora de começar a contar os segundos de novo,
hora de voltar à vida prática,
e soltar um suspiro desconsolado
de quem não queria ir embora,
e um suspiro aliviado,
de quem lembra que isso não acabou.
domingo, 1 de abril de 2012
Sonetos de amor, Pablo Neruda.
XXVII
Nua és tão simples como uma de suas mãos,
lisa, terrestre, mínima, redonda, transparente,
tens linhas de lua, caminhos de maçã,
nua és magra como o trigo nu.
Nua és azul como a noite em Cuba,
tens trepadeiras e estrelas no pêlo,
nua és enorme e amarela
como o verão numa igreja de ouro.
Nua és pequena como uma de tuas unhas,
curva sutil, rosada até que nasça o dia
e te metes no subterrâneo do mundo
como num longo túnel de trajes e trabalhos:
tua claridade se apaga, se veste, se desfolha,
e outra vez volta a ser uma mão nua.
XXXIX
Mas esqueci que tuas mãos satisfaziam
as raízes, regando rosas emaranhadas,
até que floresceram tuas digitais pisadas
na plenária paz da natureza.
O enxadão e a água como animais teus
te acompanham, mordendo e lambendo a terra,
e é assim como, trabalhando, desprender
fecundidade, fogoso viço dos cravos.
Amor e honra de abelhas peço pra tuas mãos
que na terra confundem sua estirpe transparente,
e até em meu coração abrem sua agricultura,
de tal modo que sou como pedra queimada
que de súbito, contigo, canta, porque recebe
a água dos bosques por tua voz conduzida.
Nua és tão simples como uma de suas mãos,
lisa, terrestre, mínima, redonda, transparente,
tens linhas de lua, caminhos de maçã,
nua és magra como o trigo nu.
Nua és azul como a noite em Cuba,
tens trepadeiras e estrelas no pêlo,
nua és enorme e amarela
como o verão numa igreja de ouro.
Nua és pequena como uma de tuas unhas,
curva sutil, rosada até que nasça o dia
e te metes no subterrâneo do mundo
como num longo túnel de trajes e trabalhos:
tua claridade se apaga, se veste, se desfolha,
e outra vez volta a ser uma mão nua.
XXXIX
Mas esqueci que tuas mãos satisfaziam
as raízes, regando rosas emaranhadas,
até que floresceram tuas digitais pisadas
na plenária paz da natureza.
O enxadão e a água como animais teus
te acompanham, mordendo e lambendo a terra,
e é assim como, trabalhando, desprender
fecundidade, fogoso viço dos cravos.
Amor e honra de abelhas peço pra tuas mãos
que na terra confundem sua estirpe transparente,
e até em meu coração abrem sua agricultura,
de tal modo que sou como pedra queimada
que de súbito, contigo, canta, porque recebe
a água dos bosques por tua voz conduzida.
quarta-feira, 28 de março de 2012
Quando vi a minha volta toda aquela água,
quis eu que nela me afogasse,
e que de lá não houvesse resgate.
Quando vi a minha volta todo aquele asfalto,
quis eu que ele me engolisse,
e que de lá não houvesse resgate.
Quando vi a minha volta toda aquela gente
quis eu que entre eles me perdesse,
e que de lá não houvesse resgate.
E quando vejo a minha volta,
que toda a água, asfalto e multidão
se fazem vivos aos meus olhos,
sintetizando-se numa respiração calma,
que de repente pára e depois continua
como se nada mais importasse,
vejo que não haveria resgate possível
nem mesmo se quisesse.
E a parte boa
é que nunca quis.
sexta-feira, 23 de março de 2012
O Reencontro
– Vá para lá –, diz ele
Nu, segue na direção indicada.
Passos calmos, como nas velhas caminhadas,
sabe que não há motivo para pressa,
sabe que agora, não há motivo pra nada,
mas se vê inquieto,
a possibilidade do reencontro
o invade como peste.
O dono do lugar o chama com sorriso amigo,
diz que há muito esperava conhecê-lo pessoalmente
que admirava seus olhos perfurantes,
e agradece todo o serviço prestado.
Olhando em volta, percebe vários rostos e corpos conhecidos,
algumas mulheres com quem passara boas e más noites,
amigos antigos, de quando estava aprendendo
a ser um batedor de carteira barato,
e cabeças abertas, cujo corte ele reconhece,
específico, quase uma obra de arte, inventado por ele,
boa parte daquelas pessoas, ele mesmo havia mandado para lá.
Com um simples aceno de cabeça se despede,
nunca ouviu a mesma pessoa por mais de quinze minutos.
Não seria o Demônio a conseguir a proeza.
Continua caminhando, ainda mais lentamente ainda,
prestando atenção em cada rosto,
procurando por ela em cada um deles,
gelado por dentro, apesar do fogo do lado de fora.
Ao longe, isolada de tudo e todos,
ali está, olhando para o nada.
Não precisou sequer chegar perto,
ela já pede que se sente.
Mais uma conversa com mais espaços que palavras,
diz que perdera a vida num jogo de poker.
Apostara tudo o que tinha,
a mão valia a pena,
mas boas mãos não são a prova de bala.
Fala do que acontecera,
a mãe dela morrera de velhice, sem dúvidas estava no céu,
a cidade havia progredido,
quase matara o Papa,
mas ali, o calculismo e a mira dela fizeram falta.
Dali em diante, não se ouve mais nada de nenhum dos dois,
o hiato permanece,
e permanecerá,
não há o que dizer quando se está na Eternidade,
e agora, sem mais a quem matar,
cercados dos mortos que eles mesmos fizeram,
cercados pelo fogo que ajudaram a construir,
e partilhando seus pecados,
ele suspira,
e diz que já estava cansado.
Deitam-se e dormem ali mesmo,
sob o olhar quase paternal do Diabo
que vê naqueles dois seus maiores pupilos,
as melhores das piores almas que já fez,
cuja foto está em sua escrivaninha,
ao lado do livro dos condenados.
Nu, segue na direção indicada.
Passos calmos, como nas velhas caminhadas,
sabe que não há motivo para pressa,
sabe que agora, não há motivo pra nada,
mas se vê inquieto,
a possibilidade do reencontro
o invade como peste.
O dono do lugar o chama com sorriso amigo,
diz que há muito esperava conhecê-lo pessoalmente
que admirava seus olhos perfurantes,
e agradece todo o serviço prestado.
Olhando em volta, percebe vários rostos e corpos conhecidos,
algumas mulheres com quem passara boas e más noites,
amigos antigos, de quando estava aprendendo
a ser um batedor de carteira barato,
e cabeças abertas, cujo corte ele reconhece,
específico, quase uma obra de arte, inventado por ele,
boa parte daquelas pessoas, ele mesmo havia mandado para lá.
Com um simples aceno de cabeça se despede,
nunca ouviu a mesma pessoa por mais de quinze minutos.
Não seria o Demônio a conseguir a proeza.
Continua caminhando, ainda mais lentamente ainda,
prestando atenção em cada rosto,
procurando por ela em cada um deles,
gelado por dentro, apesar do fogo do lado de fora.
Ao longe, isolada de tudo e todos,
ali está, olhando para o nada.
Não precisou sequer chegar perto,
ela já pede que se sente.
Mais uma conversa com mais espaços que palavras,
diz que perdera a vida num jogo de poker.
Apostara tudo o que tinha,
a mão valia a pena,
mas boas mãos não são a prova de bala.
Fala do que acontecera,
a mãe dela morrera de velhice, sem dúvidas estava no céu,
a cidade havia progredido,
quase matara o Papa,
mas ali, o calculismo e a mira dela fizeram falta.
Dali em diante, não se ouve mais nada de nenhum dos dois,
o hiato permanece,
e permanecerá,
não há o que dizer quando se está na Eternidade,
e agora, sem mais a quem matar,
cercados dos mortos que eles mesmos fizeram,
cercados pelo fogo que ajudaram a construir,
e partilhando seus pecados,
ele suspira,
e diz que já estava cansado.
Deitam-se e dormem ali mesmo,
sob o olhar quase paternal do Diabo
que vê naqueles dois seus maiores pupilos,
as melhores das piores almas que já fez,
cuja foto está em sua escrivaninha,
ao lado do livro dos condenados.
quinta-feira, 22 de março de 2012
"Adeus às Armas"
O sangue já escorre pela boca,
quase me sinto engasgar,
percebendo que já não há escapatória,
vou deixando que os suspiros se façam raros.
Não, não precisa buscar ajuda,
apenas fique aqui, comigo,
o tempo é curto,
em breve será apenas tu na caminhada.
O tiro pegou em cheio,
esquecemos de averiguar se o outro estava armado,
sempre foste mais safo do que eu,
e eternamente os ecos do seu grito irão pairar nesse vale.
Não deixe que essa lágrima caia,
não se perca em nome de nada,
não fale a ninguém aonde vai me enterrar,
só quero visitas tuas,
mesmo sabendo que ninguém mais lembraria da minha existência.
Cúmplice de outras épocas,
não enfraqueça,
faça jus à força que sempre vi em ti,
nada de odes à minha vida,
sabe bem que dela não se tira muita coisa,
e viveu comigo quase tudo aquilo que mereceria ser lembrado,
mas que com a visão turva, já esqueço.
faça jus à força que sempre vi em ti,
nada de odes à minha vida,
sabe bem que dela não se tira muita coisa,
e viveu comigo quase tudo aquilo que mereceria ser lembrado,
mas que com a visão turva, já esqueço.
Tudo aquilo que te disse,
todos nossos silêncios juntos,
tudo aquilo que sabemos sobre nós e sobre o mundo,
em parte morre agora comigo,
e a você, aquele que se vê na eternidade,
cabe ser o aedo da nossa história.
em parte morre agora comigo,
e a você, aquele que se vê na eternidade,
cabe ser o aedo da nossa história.
Leva contigo o meu escalpo,
e assim, garanto,
mesmo findada,
continuarei puxando o gatilho pra você.
continuarei puxando o gatilho pra você.
quarta-feira, 21 de março de 2012
Armas iguais.
A maior das virtudes pra um bom criminoso
é saber agir como se não fosse um.
Arma no bolso interno do sobretudo preto,
faca presa por uma tira de couro no antebraço,
e nenhuma gota de sangue no traje impecável.
Estava tranquila,
procura um bar pra sentar e descansar os pés.
Um pontapé repentino arromba a porta,
duas armas apontadas pra todos ali dentro,
um berro obrigando todos a saírem.
Em menos de um minuto, já não havia mais ninguém ali.
Ninguém. Exceto ela.
Não iria mover seus pés doloridos por qualquer coisa,
e apenas bebe um gole da sua bebida de sempre,
esperando a coragem do estranho de tirá-la dali.
Reconhece a arma dele. Igual a que trazia em seu bolso.
Sabe que aquela arma não se encontra em qualquer lugar.
Reconhece a coragem dela. Igual a que havia sido ensinado a ter.
Sabe que aquela coragem não se encontra em qualquer lugar.
Senta ao lado dela, pede também um drink, quase uma assinatura própria.
Em silêncio, vão bebendo sem parar de se olhar,
o barman, assustado, escondido atrás do balcão,
diz que aquele silêncio
falava mais do que qualquer conversa entre dois comuns.
Tremendo, diante da audiência daquela pequena cidade,
mostra a todos um talho de faca no balcão de madeira,
e diz que saíram juntos,
sempre em silêncio,
como se fossem conhecidos antigos,
o que é estranho,
uma vez que sempre foram vistos sozinhos.
– Provavelmente devem voltar, diz ele,
vão acabar com todos nós,
vão tirar até a última gota de vida dessa cidade,
sabe-se lá que diabos pessoas como eles podem fazer! –
– Mas uma coisa é fato, senhores...
Eu os vi sorrir. –
empunha uma espingarda pra mostrar o que tentará fazer contra eles,
a cidade aplaude seu defensor,
que com isso, venderá mais bebidas.
Enquanto isso, o prefeito da cidade vizinha é encontrado morto em seu gabinete,
o mesmo talho na madeira da mesa.
Viraram lenda por toda aquela região,
mesmo sem nunca mais terem sido vistos por ninguém,
e até hoje se especula,
qual dos dois atira,
e qual dos dois escalpela.
é saber agir como se não fosse um.
Arma no bolso interno do sobretudo preto,
faca presa por uma tira de couro no antebraço,
e nenhuma gota de sangue no traje impecável.
Estava tranquila,
procura um bar pra sentar e descansar os pés.
Um pontapé repentino arromba a porta,
duas armas apontadas pra todos ali dentro,
um berro obrigando todos a saírem.
Em menos de um minuto, já não havia mais ninguém ali.
Ninguém. Exceto ela.
Não iria mover seus pés doloridos por qualquer coisa,
e apenas bebe um gole da sua bebida de sempre,
esperando a coragem do estranho de tirá-la dali.
Reconhece a arma dele. Igual a que trazia em seu bolso.
Sabe que aquela arma não se encontra em qualquer lugar.
Reconhece a coragem dela. Igual a que havia sido ensinado a ter.
Sabe que aquela coragem não se encontra em qualquer lugar.
Senta ao lado dela, pede também um drink, quase uma assinatura própria.
Em silêncio, vão bebendo sem parar de se olhar,
o barman, assustado, escondido atrás do balcão,
diz que aquele silêncio
falava mais do que qualquer conversa entre dois comuns.
Tremendo, diante da audiência daquela pequena cidade,
mostra a todos um talho de faca no balcão de madeira,
e diz que saíram juntos,
sempre em silêncio,
como se fossem conhecidos antigos,
o que é estranho,
uma vez que sempre foram vistos sozinhos.
– Provavelmente devem voltar, diz ele,
vão acabar com todos nós,
vão tirar até a última gota de vida dessa cidade,
sabe-se lá que diabos pessoas como eles podem fazer! –
– Mas uma coisa é fato, senhores...
Eu os vi sorrir. –
empunha uma espingarda pra mostrar o que tentará fazer contra eles,
a cidade aplaude seu defensor,
que com isso, venderá mais bebidas.
Enquanto isso, o prefeito da cidade vizinha é encontrado morto em seu gabinete,
o mesmo talho na madeira da mesa.
Viraram lenda por toda aquela região,
mesmo sem nunca mais terem sido vistos por ninguém,
e até hoje se especula,
qual dos dois atira,
e qual dos dois escalpela.
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
"A cidade que nunca deu certo."
Mais uma vez era eu ali. Aquele mesmo cenário, aquela mesma terra vermelha, aquela mesma gente maltratada que naquele lugar sempre esteve e dá a impressão de ser eterna. Poderia dizer que vi aquelas mesmas caras há anos atrás, mesmo sabendo que são rostos mais novos do que eu. Rostos que já deram origem a outros enquanto eu, tão veemente quanto posso, me nego a tal ato. Algumas, de fato eram conhecidas. Não me reconheceram. Nem eu me reconheceria.
Mas apesar do mais do mesmo que paira sobre minha pequena Dogville particular, ali era uma situação avessa. Uma passada rápida e repentina, diferente de todas as outras cuidadosamente planejadas com semanas de antecedência, contando os poucos e porcos feriados. Um belo carro ao invés dos velhos ônibus que se desfacelam a cada passada de marcha. Uma conversa incessante, sobre um passado nem tão distante assim, mas não era a conversa de sempre lembrando dos mesmos episódios de uma adolescência que ainda não terminou, era uma conversa nova. Era um alguém novo.
Um bom tempo sentados em belas cadeiras, bem alimentados, esperando pela única coisa que ali fomos fazer, mas meus olhos não paravam de olhar o em volta e tentar nele, resgatar o em volta de outrora. Ali se fez claro como o céu da cidade sem fábricas, estava ali de volta e era outra. A cidade, a pessoa. Os motivos até capto, mas como isso se deu, eu perdi. Mas estava ali de passagem sem procurar por mim em esquina alguma, e apenas isso. Não era um lugar qualquer, mas era um lugar como qualquer outro.
Ao fim, o convite óbvio de viver algo que me é tão raro, e surpreendentemente, a recusa. Não perdeu a história, apenas perdeu a fantasia. A última das caixas fora aberta e tudo foi posto em seu lugar. Joguei fora todo o resto, junto com algumas latas vazias de tinta. A sensação é aquela de terminar uma mudança e ter a casa limpa. Já não pertenço mais a um espaço. Estou comigo. E acabou.
domingo, 26 de fevereiro de 2012
Marrom claro,
a um suspiro do verde.
Tudo à minha volta agora está nesse tom.
A plena sensação de estar perdida num pântano,
me afundando em areia movediça.
Correndo por cada centímetro da minha pele,
de forma tão delicada e tão envolvente,
mas ao mesmo tempo,
tão intensa e firme.
Tento mover meu pé, sem sucesso,
e assim, apenas desço um pouco mais.
Meu outro pé, engolido já foi,
e em pouco tempo, estou presa pela altura da cintura,
nessa imensidão de cor indefinida.
Não, não adianta tentar fugir.
Não hoje.
Não agora.
Então me permito, relaxo,
e de repente, percebo que os braços se movem,
as pernas se mexem em ritmo,
e sinto, estou livre.
Envolvida, enlameada, grudenta,
mas livre.
E pensando bem, ali fui parar por minha conta e risco.
e cada mínimo movimento, de cada grão milimétrico,
que se esvai numa torrente de água,
me pega como carícia.
Não, não adianta tentar fugir.
Não hoje.
Não agora.
Vou ficar por aqui, deixo o lá fora pra depois.
Afogada, e conscientemente perdida,
nesse mundo que só eu vi.
Marrom claro,
a
um
suspiro
do
verde.
a um suspiro do verde.
Tudo à minha volta agora está nesse tom.
A plena sensação de estar perdida num pântano,
me afundando em areia movediça.
Correndo por cada centímetro da minha pele,
de forma tão delicada e tão envolvente,
mas ao mesmo tempo,
tão intensa e firme.
Tento mover meu pé, sem sucesso,
e assim, apenas desço um pouco mais.
Meu outro pé, engolido já foi,
e em pouco tempo, estou presa pela altura da cintura,
nessa imensidão de cor indefinida.
Não, não adianta tentar fugir.
Não hoje.
Não agora.
Então me permito, relaxo,
e de repente, percebo que os braços se movem,
as pernas se mexem em ritmo,
e sinto, estou livre.
Envolvida, enlameada, grudenta,
mas livre.
E pensando bem, ali fui parar por minha conta e risco.
e cada mínimo movimento, de cada grão milimétrico,
que se esvai numa torrente de água,
me pega como carícia.
Não, não adianta tentar fugir.
Não hoje.
Não agora.
Vou ficar por aqui, deixo o lá fora pra depois.
Afogada, e conscientemente perdida,
nesse mundo que só eu vi.
Marrom claro,
a
um
suspiro
do
verde.
terça-feira, 21 de fevereiro de 2012
Já é fim de carnaval,
mas por aqui, o que tocam são guitarras,
e ao meu lado, está a bebida que não foi terminada ontem.
Já é fim de carnaval,
a quarta-feira de cinzas a bater na porta.
Sem marchinha que nos faça dançar,
sem máscara que nos oculte a cara,
Na quinta, todos estarão de volta ao mais do mesmo,
e quanto à mim, acho que alongo o feriado um pouco mais.
Já é fim de carnaval e eu não me importo,
volto daqui a pouco pra cama, mesmo com o sol quente.
Contemplo de novo a dose intacta no copo,
olho pra trilha de brasas no piso branco,
me perco mais um pouco na música,
e observando o peso de minhas pernas no sofá,
intimamente confortáveis, no silêncio entrecortado por crianças na rua,
e com ruídos que eu suponho saber de onde vêm, mas não me arrisco a dizer,
esboço um sorriso, até mesmo um suspiro.
Não, esse carnaval não vai acabar por agora.
Devidamente adaptado.
domingo, 12 de fevereiro de 2012
O vôo de Ícaro.
Como Ícaros em busca do Sol,
vemos nossas asas derreterem perto do sonho,
caímos no mar e dali nos encerramos.
Dói a Dédalo, que enxergando a possibilidade, fez um aviso,
e que fica no mundo,
enquanto o corpo afunda e torna-se nada.
Que caminhos fez com que decidisse ir ao Sol?
Como terá sido aproximar-se dele?
Teria ele se arrependido ao sentir a queda livre?
Teria ele se deixado cair, enebriado, ao ter conseguido voar até onde bem quis?
As respostas se perdem no mar,
junto a um corpo sem asas,
e com ele vão afundando,
sem que Dédalo vá um dia saber de algo.
Em meio à incerteza, o mundo se mostra sem assoalho,
e vendo o Infinito aos nossos pés,
não nos resta mais nada, além de voar por vontade,
sabendo que a esse voar nos resumimos,
e que nesse voar nos fazemos por nós mesmos.
Morreremos todos sem arrancar de Ícaro seus motivos,
e sem saber sobre o segundo que sucede a queda.
Mas acima de tudo, morreremos conscientes
de que nossas asas obedeceram nossas vontades,
de que um dia seremos queimados pelo Sol,
de que alguém ficará sem respostas no mundo,
mas nós, em queda livre,
saberemos de tudo,
Desse tudo que nos constrói,
desse tudo que nós construímos,
pois nosso tudo, nossas verdades e nossos motivos,
apenas a nós pertencem e a nós interessa,
e conosco se encerram junto com nossas asas queimadas.
vemos nossas asas derreterem perto do sonho,
caímos no mar e dali nos encerramos.
Dói a Dédalo, que enxergando a possibilidade, fez um aviso,
e que fica no mundo,
enquanto o corpo afunda e torna-se nada.
Que caminhos fez com que decidisse ir ao Sol?
Como terá sido aproximar-se dele?
Teria ele se arrependido ao sentir a queda livre?
Teria ele se deixado cair, enebriado, ao ter conseguido voar até onde bem quis?
As respostas se perdem no mar,
junto a um corpo sem asas,
e com ele vão afundando,
sem que Dédalo vá um dia saber de algo.
Em meio à incerteza, o mundo se mostra sem assoalho,
e vendo o Infinito aos nossos pés,
não nos resta mais nada, além de voar por vontade,
sabendo que a esse voar nos resumimos,
e que nesse voar nos fazemos por nós mesmos.
Morreremos todos sem arrancar de Ícaro seus motivos,
e sem saber sobre o segundo que sucede a queda.
Mas acima de tudo, morreremos conscientes
de que nossas asas obedeceram nossas vontades,
de que um dia seremos queimados pelo Sol,
de que alguém ficará sem respostas no mundo,
mas nós, em queda livre,
saberemos de tudo,
Desse tudo que nos constrói,
desse tudo que nós construímos,
pois nosso tudo, nossas verdades e nossos motivos,
apenas a nós pertencem e a nós interessa,
e conosco se encerram junto com nossas asas queimadas.
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
Já tão cedo, casa morta. Cansaço de dias que se faz em sono à noite, o esforço da lembrança de que no dia seguinte as obrigações estão batendo na porta de novo. Uma bela lua no céu me tira qualquer vontade de dormir, pego livros aleatórios em minha estante e me ponho a ler grifos, círculos, anotações em letra apressada. Regrifo, reanoto, releio.
Por que de vez em quando, a literatura não é suficiente, e qualquer tentativa de fazê-la estender-se ao espaço do vivencial é, pura e simplesmente, uma tentativa vã.
sábado, 4 de fevereiro de 2012
O dia seguinte.
São 3 da manhã, sequer menção de sono,
Luz amarela distante, fazendo sombra no quarto.
Uma estante inteira de livros lidos,
sem muita gente a quem recorrer,
vejo-me na inquietante e corriqueira situação
de simplesmente deixar minha mente correr como quiser,
e constatando que, por mais que a deixe desimpedida,
ela acaba indo sempre pro mesmo lugar.
Levanto, sem nada que me cubra,
páro de frente ao espelho,
contemplo ali todas as marcas do que fiz ao longo de uma vida curta,
cicatrizes de uma infância ralando joelhos no asfalto mal feito,
Rastros de mãos e bocas,
Os mesmos olhos míopes, corpo mirrado,
como diferença, apenas uma boca intensamente vermelha,
e os cabelos enormes, fazendo um calor absurdo.
como diferença, apenas uma boca intensamente vermelha,
e os cabelos enormes, fazendo um calor absurdo.
Parece que está certo,
muita coisa mudou num espaço curto de tempo,
o quarto agora parece Roma em chamas,
talvez por mim tenha passado um incêndio,
talvez isso explique o quanto pareço desfigurada a quem me conhecia,
mesmo que em carne, o mesmo tenha se mantido.
o quarto agora parece Roma em chamas,
talvez por mim tenha passado um incêndio,
talvez isso explique o quanto pareço desfigurada a quem me conhecia,
mesmo que em carne, o mesmo tenha se mantido.
Desligo as luzes, fones no ouvido,
uma única música e meu corpo adormece,
e após um sono sem sonhos,
nada melhor do que acordar
e ver que ainda habito a mesma pele marcada.
segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
Domingo.
Poderia ser qualquer domingo, mas era esse.
Acordar cedo, lavar os cabelos,
escovar os dentes, mesmo estando sem vontade de abrir a boca pra falar algo.
Me enfiar no sofá alheio e fazer dali um caixão por algumas horas.
Senta ao meu lado, tentando parecer simpática,
faz questão de um beijo e de um abraço meu.
Tenta puxar conversa, não adianta, não estou pra isso,
vá puxar o saco de quem precisa puxar! Minha aprovação aqui de nada vale.
A cara num livro de Bukowski,
uma louca que berra "SEU BICHA!" nas páginas,
um casal novo e apaixonado no sofá ao lado,
e percebo que não estou em nenhuma das duas cenas,
e que as duas de certa forma me perturbam,
não tenho a menor intenção de jogar a vida de alguém na merda
e muito menos que alguém veja em mim a salvação pra alguma coisa,
sequer faço algo por mim.
Uma bela tarde de chuva torrencial,
parecia que o Atlântico desabava sobre nossas cabeças,
dois bons filmes, boas companhias,
vejo uma altruísta plena na tela,
vejo uma platéia inteira aos prantos,
e mais uma vez, percebo que sequer figuração na tela ou na poltrona faço,
ali, impassiva, olhos enxutos e sem corda no pescoço.
Poderia ser qualquer domingo, mas era esse,
o último do mês de janeiro,
aonde saí com o sol das dez fazendo suar,
voltei quase no dia seguinte, com vento nos cabelos,
passei pelo dilúvio sem Noé que me resgatasse em arca,
mas queria era ser garoa de São Paulo encharcando você.
Acordar cedo, lavar os cabelos,
escovar os dentes, mesmo estando sem vontade de abrir a boca pra falar algo.
Me enfiar no sofá alheio e fazer dali um caixão por algumas horas.
Senta ao meu lado, tentando parecer simpática,
faz questão de um beijo e de um abraço meu.
Tenta puxar conversa, não adianta, não estou pra isso,
vá puxar o saco de quem precisa puxar! Minha aprovação aqui de nada vale.
A cara num livro de Bukowski,
uma louca que berra "SEU BICHA!" nas páginas,
um casal novo e apaixonado no sofá ao lado,
e percebo que não estou em nenhuma das duas cenas,
e que as duas de certa forma me perturbam,
não tenho a menor intenção de jogar a vida de alguém na merda
e muito menos que alguém veja em mim a salvação pra alguma coisa,
sequer faço algo por mim.
Uma bela tarde de chuva torrencial,
parecia que o Atlântico desabava sobre nossas cabeças,
dois bons filmes, boas companhias,
vejo uma altruísta plena na tela,
vejo uma platéia inteira aos prantos,
e mais uma vez, percebo que sequer figuração na tela ou na poltrona faço,
ali, impassiva, olhos enxutos e sem corda no pescoço.
Poderia ser qualquer domingo, mas era esse,
o último do mês de janeiro,
aonde saí com o sol das dez fazendo suar,
voltei quase no dia seguinte, com vento nos cabelos,
passei pelo dilúvio sem Noé que me resgatasse em arca,
mas queria era ser garoa de São Paulo encharcando você.
sábado, 28 de janeiro de 2012
Não, hoje não é dia de fazer alguma coisa... uma sensação estranha no estômago e uma cabeça querendo pesar me seguram em 72 m² de mundo restrito, que meu não é, mas ajo como se fosse. O simples ato de abrir meus olhos ao acordar já me cansou pelas próximas 24 horas. Quase doeu.
Entendam que isso não incorre num estado de melancolia, depressão ou qualquer coisa do tipo. Entendam que eu não tenho que procurar recuperação alguma. Enxergo a beleza do samba numa tarde de sábado, regado à cachaça barata e cerveja, uma mulata sorridente fazendo da música, carne em movimento, mas a vocação de passista não nasceu comigo, e nisso não há motivo pra desespero.
Vejo o mundo da minha janela e só desço quando quero. Aqui há bons livros, a penumbra natural do meu quarto, a vista do pôr-do-sol e o chão gelado aonde me deito em dias de calor... Deixem de achar que recolhimento é doença. O samba só é bem escrito quando tem alguma gota de solidão.
quinta-feira, 26 de janeiro de 2012
Olhos não sabem esconder verdadeiras intenções.
Estavam ali como vinham estando há um tempo,
distância suficiente pra que ainda haja concentração,
sem que o cheiro se perca no meio do caminho.
Apesar da euforia iminente, o que se percebe é uma calma
típica de quem entende que às vezes
a própria tensão anterior ao instante alimenta ao espírito
tanto quanto o instante em si.
O sinal de todos os dias:
Uma tremedeira na perna.
Não há mais nada que os impeça
e eu, olhando da janela da frente,
bem percebo que na verdade, nunca houve nada que pudesse impedi-los.
Roupas que somem do corpo de forma lenta e gradual,
como se estivessem por descobrir o inédito,
E ali ficam por horas,
unidos pelos braços, unidos pelas pernas,
unidos pelo suor e unidos por pura vontade.
Sem se preocupar com quem os veja,
por que, na verdade, até então ninguém os havia visto,
e sem desconfiar de mim,
se entregam àquela nudez delicada, descabelada,
e acima de tudo, cúmplice.
Tento ler os lábios deles, entender o que tanto conversam e riem,
e então percebo que não estão falando um idioma que eu entenda.
Ali vejo o encontro de dois daimons,
vejo-os chegar ao orgasmo aos berros,
vejo-os devorando um ao outro como se o sol não fosse nascer de novo,
penso que talvez possam estar certos.
Continuam conversando,
sabe-se lá que diabos falam,
mas sabe-se que não perdem tempo,
pois pra eles, o tempo não se mede.
Volto ao meu quarto e escrevo sobre o que vi,
Ciente de que talvez nem tenha visto nada.
Dois daimons eram meus vizinhos da frente,
e morrerei sem saber se apenas tomei remédios demais,
ou se estou a meio caminho do Olimpo.
distância suficiente pra que ainda haja concentração,
sem que o cheiro se perca no meio do caminho.
Apesar da euforia iminente, o que se percebe é uma calma
típica de quem entende que às vezes
a própria tensão anterior ao instante alimenta ao espírito
tanto quanto o instante em si.
O sinal de todos os dias:
Uma tremedeira na perna.
Não há mais nada que os impeça
e eu, olhando da janela da frente,
bem percebo que na verdade, nunca houve nada que pudesse impedi-los.
Roupas que somem do corpo de forma lenta e gradual,
como se estivessem por descobrir o inédito,
E ali ficam por horas,
unidos pelos braços, unidos pelas pernas,
unidos pelo suor e unidos por pura vontade.
Sem se preocupar com quem os veja,
por que, na verdade, até então ninguém os havia visto,
e sem desconfiar de mim,
se entregam àquela nudez delicada, descabelada,
e acima de tudo, cúmplice.
Tento ler os lábios deles, entender o que tanto conversam e riem,
e então percebo que não estão falando um idioma que eu entenda.
Ali vejo o encontro de dois daimons,
vejo-os chegar ao orgasmo aos berros,
vejo-os devorando um ao outro como se o sol não fosse nascer de novo,
penso que talvez possam estar certos.
Continuam conversando,
sabe-se lá que diabos falam,
mas sabe-se que não perdem tempo,
pois pra eles, o tempo não se mede.
Volto ao meu quarto e escrevo sobre o que vi,
Ciente de que talvez nem tenha visto nada.
Dois daimons eram meus vizinhos da frente,
e morrerei sem saber se apenas tomei remédios demais,
ou se estou a meio caminho do Olimpo.
quarta-feira, 25 de janeiro de 2012
Há certa beleza nas noites de chuva, que não se restringe às gotas realçando traços curvos e modernos de uma arquitetura que nos dá um pouco da já pequena identidade cultural de quem por aqui vive... Cada poça de água que se forma nesse asfalto irregular em dias de ebulição mental e marasmo prático, é um convite ao pensamento incessante, e observar cada uma delas iluminada pelo poste que quase parece entrar pela minha janela é o que se faz por hoje.
domingo, 22 de janeiro de 2012
Alforria
Depois de anos recebendo cartas quase idênticas,
falando da dureza da vida naquela terra
e de como lá tinha um pôr-do-sol bonito,
num belo dia, aparece uma diferente, caligrafia mais acertada,
dizendo que dali a um mês, estaria recebendo sua carta de alforria.
Imediatamente ela arruma suas poucas coisas numa trouxa
e sai rumo àquela velha fazenda,
com cada milímetro daquela senzala aonde se conheceram na mente,
e de onde sua fuga fora mais fácil,
escravinha nova, não fazia muita diferença.
A viagem era longa, turbulenta,
e chegara no dia marcado.
Esperando na sombra, com medo que o sol a fizesse suar
e acabasse com o cheiro do perfume barato que comprara apenas pra esse dia,
ela o vê atravessando os portões.
Uma calça puída feita com o tecido que embala as sacas de arroz,
velha, mas nesse dia, diferentemente dos outros, impecavelmente limpa.
Mancando da perna direita, depois de anos arrastando o grilhão de escravo,
sem suor, sem a voz ofegante de cansaço,
apenas um sorriso tímido de quem não esperava vê-la ali.
Páram de frente um pro outro, sabem que o contato será inevitável,
estão os dois do lado de fora,
em mãos, a carta de alforria,
ele apenas olha no fundo dos olhos dela
e diz que fará dinheiro
e um dia será poeta.
Os dois caminham na direção do sol rumo ao nada,
e o capataz na porta inveja aquela liberdade.
Fênix
Depois de mais uma noite de vento nos cabelos,
a mente que ferve
e quase sentindo meu crânio derreter,
lembro que da minha gaveta, nada mais resta.
Já não é mais tempo
de procurar num eu passado minhas perturbações de hoje,
vasculhar essa merda de madeira barata da Casas Bahia
atrás de algo que tangencie o instante presente
que nem medida possui.
Salvei aquilo que pude,
joguei fora sem dó o que a mim já não mais retrata,
como fiz com tudo e todos que pela minha vida já passaram.
Não, não restou muita coisa.
Uma ou duas páginas, talvez um par de meias e alguns poucos amigos.
Não, não lamento o que possa ter perdido,
Fiz exatamente o que achei que deveria ser feito.
Dessacralize o mundo,
encare e encarne a finitude,
cerque-se dos bons,
e nunca perca de vista o princípio básico:
A única coisa de que você nunca vai se livrar é de você mesmo,
então, faça sempre o possível,
pra não ser pra si uma companhia insuportável.
a mente que ferve
e quase sentindo meu crânio derreter,
lembro que da minha gaveta, nada mais resta.
Já não é mais tempo
de procurar num eu passado minhas perturbações de hoje,
vasculhar essa merda de madeira barata da Casas Bahia
atrás de algo que tangencie o instante presente
que nem medida possui.
Salvei aquilo que pude,
joguei fora sem dó o que a mim já não mais retrata,
como fiz com tudo e todos que pela minha vida já passaram.
Não, não restou muita coisa.
Uma ou duas páginas, talvez um par de meias e alguns poucos amigos.
Não, não lamento o que possa ter perdido,
Fiz exatamente o que achei que deveria ser feito.
Dessacralize o mundo,
encare e encarne a finitude,
cerque-se dos bons,
e nunca perca de vista o princípio básico:
A única coisa de que você nunca vai se livrar é de você mesmo,
então, faça sempre o possível,
pra não ser pra si uma companhia insuportável.
sábado, 14 de janeiro de 2012
Mais um achado de gaveta. 27/09/2011
Soam as trombetas,
baby, começou o fim do mundo
e eu sequer tive a chance de conhecer Paris!
Esqueci de amar a Deus sobre todas as coisas
e agora o peso do pecado funciona como grilhão e corrente.
Pessoas se curvam e pedem clemência
alegando ignorância e procurando ascender aos céus,
mas agora, investigando minha própria mente,
não encontro sequer um motivo pra me prostrar diante Dele,
que já me olha, sabendo que me entrego sem questionar,
admitindo uma curta existência que o nega desde sempre.
Brada em sua voz grave, chama meu nome
diz que a condenação é inevitável,
sinto o chão se abrir e as labaredas me envolverem,
dor, a pior das dores,
mas ainda assim, sem gritos.
O Inferno agora me espera, e não adianta negar o que fui ou o que fiz.
Tomada pelo fogo e já de pele carbonizada,
sinto um chicote em minhas costas,
o Diabo me sorri como velho amigo,
e diz sentir falta da Torre Eiffel.
baby, começou o fim do mundo
e eu sequer tive a chance de conhecer Paris!
Esqueci de amar a Deus sobre todas as coisas
e agora o peso do pecado funciona como grilhão e corrente.
Pessoas se curvam e pedem clemência
alegando ignorância e procurando ascender aos céus,
mas agora, investigando minha própria mente,
não encontro sequer um motivo pra me prostrar diante Dele,
que já me olha, sabendo que me entrego sem questionar,
admitindo uma curta existência que o nega desde sempre.
Brada em sua voz grave, chama meu nome
diz que a condenação é inevitável,
sinto o chão se abrir e as labaredas me envolverem,
dor, a pior das dores,
mas ainda assim, sem gritos.
O Inferno agora me espera, e não adianta negar o que fui ou o que fiz.
Tomada pelo fogo e já de pele carbonizada,
sinto um chicote em minhas costas,
o Diabo me sorri como velho amigo,
e diz sentir falta da Torre Eiffel.
domingo, 8 de janeiro de 2012
O que eu encontro quando mexo nas minhas gavetas. 19/07/2011
Como posso eu me perder
em becos já de longa data conhecidos
complicados, mas mapeados
pura desgraça que acaricia na noite gelada
e que se afasta quando o fogo se cria?
Profissionalmente humana,
aprendi a não ter medo e a me meter no que não devia
conheço assim os podres dessa raça, pois todos eles me pertencem,
e sendo bem sincera, deles quase me sinto filha.
Gente que tão fácil se impressiona
e vê, desenhado nas linhas de uma mão, todo um mundo a ser vivido,
mas que vivido nunca será por pura indisposição
pois estarei andando por outro lugar
sem lembrar sequer do seu nome
já que, sinceramente, isso não me interessa.
Como posso eu me perder
se sou parte da humanidade e ela é parte minha
se conheço cada centímetro de minha pele cansada
e está toda a humanidade fadada também à desgraça que faço sozinha?
Não, eu não me perco mais.
Tudo isso é muito óbvio,
e graça, na verdade, nunca teve.
E sendo só mais uma criminosa egoísta,
não esqueço minhas luvas e de mim não sobra rastro.
Ninguém me viu passar por aqui,
ninguém sabe que te matei a sangue frio.
E vou embora por entre as vielas,
sangue escorrendo pelas pernas
e toda a minha culpa se resumindo
a ter deixado a janela aberta e me esquecido da chuva.
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